Mediator, prescrito para diabéticos com excesso de peso e que, em 33 anos à venda na França, causou a morte de varias pessoas.
A composição do remédio se assemelha a outro produto do mesmo laboratório, o Isomeride, destinado a controlar o apetite e que foi retirado do mercado na França e nos Estados Unidos em 1997.
Como você se sentiria se um membro amado da família morresse
por causa da ganância de uma empresa farmacêutica que conscientemente comercializou um medicamento mortal 30 anos depois que eles descobriram que
poderia matar pessoas?
Essa é a posição das famílias de cerca de 2.300 pacientes franceses que morreram depois de usar a droga benfluorex - comercializado na França sob o nome Mediador - para tratar a diabetes.
Essa é a posição das famílias de cerca de 2.300 pacientes franceses que morreram depois de usar a droga benfluorex - comercializado na França sob o nome Mediador - para tratar a diabetes.
A história da droga está envolta em um
véu de corrupção e encobrimentos, mas o governo francês está agora buscando gigante
farmacêutico Servier em toda a extensão da lei.
Foi uma médica francesa, Irene Franchon, que detectou o primeiro caso, em 2007. No entanto, só dois anos depois é que a Agência Europeia do Medicamento (EMEA) desencadeou a investigação que culminou na proibição de venda de todos os produtos com a substância ativa benfluorex, devido aos riscos associados à sua utilização, em particular o risco de doença valvular cardíaca, se poderem sobrepor aos benefícios», dizia o comunicado da EMEA de Dezembro de 2009
Fonte do Infarmed confirmou ao tvi24.pt que este medicamento (cuja substância ativa é benfluorex) foi comercializado em Portugal entre 1977 e Novembro de 2009, tendo sido proibido depois de uma série de casos de reações adversas graves ocorridas em França e do resultado de dois estudos associando o benfluorex ao aparecimento de valvulopatias cardíacas, conforme informava o comunicado da Autoridade do Medicamento na altura.
De acordo com os dados franceses, cerca de dois milhões de pessoas consumiram o «Mediator» desde 1976 até à sua proibição.
De acordo com os dados franceses, cerca de dois milhões de pessoas consumiram o «Mediator» desde 1976 até à sua proibição.
Até então anônima, como milhares de outros médicos, Irène Frachon lutou contra o poderoso laboratório farmacêutico Servier, que comercializava o anorexígeno Mediator, causador de, pelo menos, 1.350 mortes
Casada, mãe de quatro filhos, a médica francesa Irène Frachon mantinha uma rotina comum, na cidade de Brest, no litoral noroeste da Bretanha, onde trabalha como pneumologista no Centro Hospitalar Universitário (CHU) local. Até que, num certo dia de 2007, um colega cardiologista a chamou para discutir o caso de uma paciente diabética, portadora de lesões valvulares. Sua vida começaria, então, a ser fortemente modificada. Era o início de sua luta contra um dos gigantes da indústria farmacêutica francesa, o influente laboratório Servier.
“Ela não estava bem, as lesões me lembravam as dos pacientes que tinham tomado o Isoméride, um anorexígeno, também do laboratório Servier, proibido em 1997. Quando perguntei ao meu colega o que a paciente tinha tomado, ele respondeu: Mediator”, disse a médica, posteriormente, ao jornal francês Libération. Intrigada, começou a pesquisar e logo veio a primeira surpresa, o medicamento era proibido na maioria dos países, mas não na França. “Demorou para que eu percebesse que o princípio ativo do Mediator – um inibidor do apetite, também da classe dos anorexígenos – era próximo ao do Isoméride. Isso não era dito, aliás, afirmavam o contrário”, explica.
“O número de mortes provocadas pelo medicamento foi calculado estatisticamente – não foi possível fazer um recenseamento – pelos epidemiologistas do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm), da França, que publicaram seus estudos em dois jornais científicos, o La Presse Médicale e no Pharmacoepidemiologic Drug Safety, em 2012. Segundo calcularam, ocorreram pelo menos 1.350 mortes durante o período de comercialização do Mediator (1976-2009). É uma estimativa conservadora, que não leva em conta os óbitos decorrentes de outra complicação, a hipertensão arterial pulmonar – mais rara, porém muito grave – e as mortes que aconteceram fora dos hospitais”, explica a médica.
Assim que encontrou as provas de suas suspeitas, naquela noite do inverno europeu de 2009, quando estudava os dossiês de valvulopatias, a médica não perdeu tempo. Juntamente com uma enfermeira de seu serviço no CHU, montou um estudo de caso-testemunho demonstrando sua descoberta e comunicou à Agência Francesa de Segurança Sanitária dos Produtos de Saúde (Alssaps). Também procurou apoios, como o de uma ex-professora da Faculdade de Medicina e de outra colega, epidemiologista. Apesar de 300 mil pacientes estarem tomando o Mediator, a Alssaps só suspendeu a comercialização do medicamento vários meses depois, em novembro daquele ano.
Irène não parou por aí. Escreveu, o mais rapidamente possível, o livro Mediator 150 mg. Quantos mortos? À revista L´Express explicou tê-lo redigido “para que as vítimas, geralmente de origem modesta, pudessem apoiar-se nele diante dos tribunais”. O laboratório, claro, nega sistematicamente o nexo dos óbitos com o Mediator. Conseguiu, por algum tempo, proibir o uso do nome do medicamento no título do livro. Porém, as pesquisas da médica foram convalidadas por importantes instituições francesas.
A revista The Lancet descreveu algumas de suas conclusões: Poucos têm tem falado sobre as reputações impolutas pelo relatório IGAS.
Servier é acusado de comercializar medicamento “em desacordo
com suas propriedades medicinais” e de aplicar pressão indevida em reguladores
e na comunidade médica para garantir o sucesso na comercialização de seu
produto.
AFSSAPS, os reguladores de medicamentos franceses, são
considerados “inexplicavelmente tolerante a uma droga sem valor terapêutico
real”. Eles também são pintados como uma burocracia “sobrecarregada” “enredada
em procedimentos legais morosos e complexos”, e “contido por medo de litígio”.
As comunidades médicas e científicas mais amplas também foram críticadas por
comportamento irresponsável.
Servier desenvolveu benfluorex na década de 1960, como um
derivado de anfetamina, que era conhecida para suprimir o apetite. Eles também
desenvolveram outros dois desses derivados, e chamou-lhes fenfluramina e
dexfenfluramina.
Todas as três drogas eram muito semelhantes, mas Servier
insistiu em fazer de benfluorex classificado como uma classe diferente de
drogas. Enquanto a fenfluramina e a dexfenfluramina foram comercializados como
anorexígenos para a obesidade, o benfluorex foi comercializado principalmente
como um medicamento para a diabetes.
Quando fenfluramina foi retirado do mercado em todo o mundo
duas décadas mais tarde, depois de ter sido ligado ao aumento do risco de
doença cardíaca pulmonar, Servier convenientemente omitiu o fato de que
benfluorex fazia essencialmente a mesma coisa. Isto significava que benfluorex
continuou a ser comercializada por décadas mais, resultando nas mortes
evitáveis de mais de 2.000 pessoas.
O que realmente está por trás dessa absoluta falta de
respeito pela vida humana é o dinheiro: A empresa relatou vendas anuais de mais
de US $ 24.000.000 nos anos antes que a droga foi proibida.
http://macedoniaonline.eu/content/view/16863/2/
http://www.jb.com.br/ciencia-e-tecnologia/noticias/2010/11/16/governo-frances-preocupado-com-remedio-para-diabetes-que-causou-500-mortes/
https://www.theguardian.com/world/2013/jul/09/pierre-dukan-france-mediator-prescription
https://www.theguardian.com/world/2013/jan/06/france-scandal-weight-loss-drug
https://www.theguardian.com/world/2010/nov/24/patients-sue-weight-loss-drug-mediator
https://business-humanrights.org/en/france-criminal-lawsuits-filed-against-pharmaceutical-giant-servier-over-weight-loss-drug-that-allegedly-caused-hundreds-of-deaths
https://www.theguardian.com/world/2013/jan/06/france-scandal-weight-loss-drug
https://www.theguardian.com/world/2010/nov/24/patients-sue-weight-loss-drug-mediator
https://business-humanrights.org/en/france-criminal-lawsuits-filed-against-pharmaceutical-giant-servier-over-weight-loss-drug-that-allegedly-caused-hundreds-of-deaths