Cientistas desenvolvem moléculas que prometem inovar o tratamento da perda de memória ligada ao envelhecimento ou a doenças mentais. Se teste clínico for bem sucedido, remédio poderia até retardar início do Alzheimer.
A droga poderia ser tomada como pílula diária por pessoas com mais de 55 anos, caso pesquisa clínica seja bem sucedida
Uma droga experimental que fortalece as células cerebrais
debilitadas elevou as expectativas para o tratamento da perda de memória e de
outras deficiências mentais comuns na velhice. Moléculas terapêuticas
desenvolvidas no Centro de Dependência e Saúde Mental (CAMH) de Toronto
prometem reverter à perda de memória ligada à depressão e ao envelhecimento.
Em testes pré-clínicos, essas moléculas não apenas
melhoraram rapidamente os sintomas, mas também pareceram reverter as
deficiências cerebrais responsáveis pela perda de memória. As descobertas foram
apresentadas nesta quinta-feira (14/02) no Encontro Anual da Associação
Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), em Washington.
"Atualmente não há medicamentos para tratar sintomas
cognitivos como a perda de memória gerada pela depressão, por outras doenças
mentais e pelo envelhecimento", disse Etienne Sibille, um dos cientistas
responsáveis pelo estudo e diretor adjunto de um instituto de pesquisa ligado
ao CAMH.
De acordo com Sibille, o que é único e promissor sobre essas
descobertas – em detrimento dos diversos fracassos no desenvolvimento de
medicamentos para doenças mentais – é o fato de os compostos serem altamente
direcionados para ativar os receptores cerebrais debilitados que estão causando
a perda de memória.
Pesquisadores apresentaram uma nova droga na quinta-feira
que promete se tornar uma medicação eficaz para reverter à perda de memória.
Conforme relatado pelo site científico Science Daily , este
fármaco foi desenvolvido por especialistas do Centro de Dependência e Saúde
Mental do Canadá (CAMH) com base em moléculas derivadas de benzodiazepinas, uma
substância utilizada na produção de ansiolíticos e antidepressivos, tais como
Valium (ou diazepam).
O relatório refere que esta nova molécula que ativa seletivamente
os receptores no sistema de neurotransmissor de ácido gama-aminobutírico (GABA)
mostraram alta eficácia em testes com ratos com perda de memória induzida por
stress.
Além disso, a equipe científica realizou outra análise com
roedores que experimentaram os mesmos sintomas como resultados do
envelhecimento. Nesse caso, a deterioração da memória também pode ser revertida
rapidamente após a administração da droga, atingindo um rendimento 80% maior e
semelhante ao dos espécimes jovens.
Foi necessária uma série de estudos – o mais recente
publicado em janeiro de 2019 – para chegar a esse estágio. Sibille e sua equipe
identificaram as deficiências específicas dos receptores celulares cerebrais no
sistema de neurotransmissores Gaba – o principal neurotransmissor inibidor no
sistema nervoso central.
As novas pequenas moléculas foram desenvolvidas para se
conectar e ativar o alvo receptor. A ideia é que as moléculas exerçam um efeito
terapêutico ao "consertar" a debilitação e, dessa forma, levar a uma
melhora nos sintomas.
As moléculas são ajustes químicos das benzodiazepinas, uma
classe de medicamentos ansiolíticos e sedativos que também ativam o sistema
neurotransmissor Gaba, mas não são propriamente direcionáveis.
Uma dose única dessas novas moléculas foi administrada em
modelos pré-clínicos com perda de memória induzida por estresse. Trinta minutos
depois, o desempenho da memória retornou aos níveis normais – o experimento foi
repetido mais de 15 vezes.
Em outro experimento que envolveu testes pré-clínicos em
animais idosos, os declínios de memória foram rapidamente revertidos, e o
desempenho aumentou para 80% após a administração do composto químico. Os
níveis atingidos foram semelhantes aos normalmente vistos na juventude ou nos
estágios iniciais da vida adulta. Depois de dois meses de tratamento, os
cientistas descobriram que as células que haviam encolhido nos animais
cresceram.
"As células envelhecidas se recuperaram e aparentavam
ser da mesma forma que as células jovens do cérebro. Isso mostra que nossas
novas moléculas podem modificar o cérebro em complemento à melhora de
sintomas", disse Sibille. Ele espera começar as pesquisas clínicas em dois
anos.
"Mostramos que nossas moléculas entram no cérebro, são
seguras, ativam as células-alvo e invertem o déficit cognitivo da perda de
memória", apontou o cientista. A droga poderia ser tomada como pílula
diária por pessoas com mais de 55 anos.
Caso o teste seja bem sucedido, as potenciais aplicações são
inúmeras. Não só há uma falta de tratamento para os déficits cognitivos nas
doenças mentais, mas as melhorias no cérebro sugerem que as moléculas poderiam
ajudar a prevenir a perda de memória num estágio inicial do Alzheimer,
potencialmente retardando seu início.
"Nossas descobertas têm implicações diretas para a má
cognição num envelhecimento normal", disse Sibille. "Mas vemos essas
deficiências também entre transtornos que vão desde a depressão à esquizofrenia
e ao Alzheimer"
https://www.hispantv.com/noticias/salud/411352/medicamento-perdida-memoria-science-daily